"Are you such a dreamer to put the world to rights? I'll stay home forever. Where two & two always makes up five".
Radiohead
"É hora de os escritores admitirem que nada neste mundo faz sentido. Só tolos e charlatães pensam que sabem e compreendem tudo. Quanto mais estúpidos são, mais amplos supõem ser seus horizontes. E se um artista decide declarar que não entende nada do que vê - isto por si só constitui uma considerável clareza na esfera do pensamento e um grande passo adiante".
Tchekhov - Citado por Francine Prose em
Para ler como um escritorEla continua após a citação:
"Todo grande escritor é um mistério, ainda que apenas porque algum aspecto de seu talento permanece para sempre inefável, inexplicável e assombroso. A simples população da imaginação de Dickens, a arquitetura fantástica que Proust constrói a partir de momentos minuciosamente examinados. Perguntamos a nós mesmos: como pôde alguém fazer isso? E, é claro, diferentes qualidades da obra assombrarão diferentes pessoas. Para mim, o mistério de Tchekhov é antes de mais nada de conhecimento: como pode ele saber tanto? (nota do blogueiro: quem está escrevendo é uma mulher, não é por acaso sua atração pelo conhecimento) Ele sabe tudo que nos orgulhamos de ter aprendido, e muito mais. 'Festa do santo do dia', uma história sobre uma mulher grávida, é cheia de observações sobre a gravidez que eu pensava serem segredos que só gravidas conheciam.
(...)
Para mim, porém, o maior mistério é essa questão a que ele (Tchekhov) está sempre aludindo em suas cartas: a necessidade de escrever sem julgamento. Não dizer: 'Roubar cavalos é mal'. Não ser o juiz dos próprios personagens e de suas conversas, mas sim o observador imparcial. Certamente Tchekhov não vive sem julgamento. Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen que se exercitaram para suspender toda reflexão, seja moral ou de outros tipos. Minha impressão é que viver sem julgamento é uma má idéia (nota - desta vez machista- do blogueiro: não esqueçam: é uma mulher!). E, mais uma vez, nada disso é exigido do escritor. Balzac julgava todas as pessoas e achava que quase todas deixavam a desejar; a mesquinhez delas e a ferocidade de seu ultraje é parte da grandeza de sua obra. Mas Tchekhov acreditava - e punha essa idéia em prática mais do que qualquer escritor em que eu possa pensar - que julgamento e preconceito são imcompatíveis com certo tipo de arte literária. É por isso que , por razões que ainda não posso realmente explicar, sua obra me reanimava de maneiras que a de Balzac simplesmente não conseguia".
Francine Prose - Para ler como escritor (grifos do blogueiro)
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"(...) julgamento e preconceito são incompatíveis com certo tipo de arte literária". Acredito que julgamento e preconceito são incompatíveis com qualquer tentativa de viver bem. Hoje, já não me fecho tanto, procurando evitar contato com os outros para não cair neste erro. Estou encarando a vida "e me assustei: não sou perfeito", mas não desisto da busca pelo sentido, e tento me policiar quanto ao julgamento e preconceito. Óbvio: sou cristão, ou, ao menos, procuro ser. É interassante como a autora afirma "Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen (...)". Se a pessoa quiser ser um santo é vista como doida ou deve ir para um mosteiro. Bem, tomo antipsicóticos; alguns me acusam de charlatão (exagêro); já quis ser monge zen... Que bom! To no caminho.
P. S.: Não que eu queira ser um santo; é mais uma questão de dever; mas ainda estou bem distante de encarar o que tenho que fazer e não quero fazer. Um cristão realmente consequente não louva Cristo: quer ser como ele é.