"I wish I was special. You´re so fucking special"
Radiohead
Creep. Esta música me parece um retrato do mundo o qual estamos vivendo. No mesmo album, em Bones: "Prozac, pain killer". Costumo ir ao psquiatra uma vez ao mês. A sala de espera está sempre lotada. A consulta tem que ser marcada com bastante antencedência. Hoje mesmo, vi na traseira de um carro: "Juliana Garcia, Psicologia Clínica". Transtornos hoje são tão comuns e variados como uma gripe. Já nem é mais "cool" ter um transtorno.
Pressão. A evolução, aparentemente de tudo, segue uma função exponencial. Quando se incide calor a um meio, as molécolas deste meio se agitam e começam a colidir. Desta interação surge a sensação de quente. Se continuarmo com isso, a matéria tende a se desmanchar. Parece que está acontecendo algo semelhante nesta sociedade. A pressão que se exerce sobre nós é maior do que antes, exponencialmente. Sempre tivemos que "buscar pela felicidade", mas hoje existe um mundo ideal forjado pela televião. Corpos perfeitos, estrelas para todos os lados, ídolos efêmeros sendo sugados e jogados fora com um cigarro. A industria cultural hoje parece um fabricante de cigarros. A cada temporada manda um ídolo/cigarro novo. A gente consome o ídolo e joga a bagana fora. E nisto, mais e mais fãns, mais e mais novas notícias e fofocas. A industria de massa hoje é uma grande droga que consumimos. Te-le-vi-são. Eis o meio o qual a droga chega, é a seringa. "I've got 30 channels in a shit of tv to choose from", já dizia R. Waters em 1980. Ela preciona. Compre, compre, compre!!! Propagandas modelando um mundo perfeito (se você comprar,claro): "seja um ligador", "viva o lado coca-cola da vida". Você só "é" se "tem".
A realidade se constrói socialmente. E há algo de errado nas relações sociais de hoje, uma patologia que se mostra na fragilidade de nossas mentes. Tudo é uma farsa. Tudo é planejado para que seja acreditado conforme alguém quis. E todos sabem disso! Isto, definitivamente, é o mais incrível. Eu vejo como se estivess acontecendo um descolamento da base social do pensamento coletivo. Numa crise paranóica, a mente do "louco" se descola da realidade, cria um mundo particular e este mundo se choca com o mundo real. Este choque gera uma crise. Eu vejo o mundo com passando por esta crise: coletivamente, estamos nos descolando da realidade e a realidade que a televisão nos mostra entre em choque com o que ela é. E esta contradição é mostrada pela própria televisão. Vejamos as propagandas e seu mundo perfeito garantido pelo consumo e depois vemos qualquer noticiário e nos deparamos com o caos em que vivemos. E as novelas... elas têm final feliz. A dose semestral de morfina. Três doses.
2 comentários:
Por isso eu digo: Cartoon Network na veia!
Sem falar nas pessoas virtuais. Os sites de relacionamento (notadamente, o orkut) que pretendem sintetizar uma pessoa numa página de internet... O que parcialmente funciona, aí você faz parcialmente amigos. Às vezes você chega a parcialmente se apaixonar por alguém que você nunca viu, tocou, cheirou, lambeu! Argh, como eu odeio a internet e suas limitâncias. Não, antes, odeio o nosso tempo que precisa da internet.
Cara, é muito louco: quase todas (uma maioria muito grande) as pessoas que são hoje importantes pra mim eu conheci pela internet (tu, inclusive). É ou não é de neurar? Quanto tempo, aliás, a gente não se vê pessoalmente? Graças à internet a gente ainda se fala. Mas até que ponto é bom ter esse contato, se vai sempre ser parcialmente?
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