quinta-feira, 29 de julho de 2010

A questão da Verdade

"Vimos que o verdadeiro e o falso dependem de como se manifesta ou se torna patente o ser das coisas. Verdade ou falsidade só existem no âmbito da verdade em sentido amplo, entendida como alétheia, como desocobrimento, desvelamento ou patenteamento. E as coisas se manifestam de modo eminente no dizer, quando se diz o que são, quando se enuncia seu ser. Por isso Aristóteles diz que o lugar natural da verdade é o juízo. Quando digo A é B, enuncio necessariamente uma verdade ou uma falsidade, o que não ocorre em outros modos da linguagem, por exemplo num desejo ("tomara que chova") ou numa exclamação ("ai!"). O dizer enunciativo coloca as coisas na verdade. Mas é claro que essa possibilidade funda-se no caráter de verdade das próprias coisas, na possibilidade de seu patenteamento.
A verdade mostra o ser de uma coisa, a falsidade o suplanta por outro. No juízo verdadeiro, uno o que na verdade está unido, ou separo (em juízo negativo) o que está separado, ao passo que no juízo falso faço o contrário."
"O ceticismo nega que seja possível conhecer a verdade, o relativismo admite que tudo por ser verdade, mas que esta é relativa (...)."
Marías, Julian - História da Filosofia
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A busca pela verdade consiste na busca por um método de encontrar a verdade, distinguir o verdadeiro do falso dentro do ponto de vista adotado. 1 + 1 = 2. Isto é verdade dentro do conjunto dos números naturais, mas no conjunto dos números binários o resultado é 10. Essa busca fundou toda a filosofia e por conseguinte a ciência. É o motor da vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma meia-verdade

"Are you such a dreamer to put the world to rights? I'll stay home forever. Where two & two always makes up five".
Radiohead


"É hora de os escritores admitirem que nada neste mundo faz sentido. Só tolos e charlatães pensam que sabem e compreendem tudo. Quanto mais estúpidos são, mais amplos supõem ser seus horizontes. E se um artista decide declarar que não entende nada do que vê - isto por si só constitui uma considerável clareza na esfera do pensamento e um grande passo adiante".

Tchekhov - Citado por Francine Prose em Para ler como um escritor

Ela continua após a citação:

"Todo grande escritor é um mistério, ainda que apenas porque algum aspecto de seu talento permanece para sempre inefável, inexplicável e assombroso. A simples população da imaginação de Dickens, a arquitetura fantástica que Proust constrói a partir de momentos minuciosamente examinados. Perguntamos a nós mesmos: como pôde alguém fazer isso? E, é claro, diferentes qualidades da obra assombrarão diferentes pessoas. Para mim, o mistério de Tchekhov é antes de mais nada de conhecimento: como pode ele saber tanto? (nota do blogueiro: quem está escrevendo é uma mulher, não é por acaso sua atração pelo conhecimento) Ele sabe tudo que nos orgulhamos de ter aprendido, e muito mais. 'Festa do santo do dia', uma história sobre uma mulher grávida, é cheia de observações sobre a gravidez que eu pensava serem segredos que só gravidas conheciam.
(...)
Para mim, porém, o maior mistério é essa questão a que ele (Tchekhov) está sempre aludindo em suas cartas: a necessidade de escrever sem julgamento. Não dizer: 'Roubar cavalos é mal'. Não ser o juiz dos próprios personagens e de suas conversas, mas sim o observador imparcial. Certamente Tchekhov não vive sem julgamento. Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen que se exercitaram para suspender toda reflexão, seja moral ou de outros tipos. Minha impressão é que viver sem julgamento é uma má idéia (nota - desta vez machista- do blogueiro: não esqueçam: é uma mulher!). E, mais uma vez, nada disso é exigido do escritor. Balzac julgava todas as pessoas e achava que quase todas deixavam a desejar; a mesquinhez delas e a ferocidade de seu ultraje é parte da grandeza de sua obra. Mas Tchekhov acreditava - e punha essa idéia em prática mais do que qualquer escritor em que eu possa pensar - que julgamento e preconceito são imcompatíveis com certo tipo de arte literária. É por isso que , por razões que ainda não posso realmente explicar, sua obra me reanimava de maneiras que a de Balzac simplesmente não conseguia".

Francine Prose - Para ler como escritor (grifos do blogueiro)

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"(...) julgamento e preconceito são incompatíveis com certo tipo de arte literária". Acredito que julgamento e preconceito são incompatíveis com qualquer tentativa de viver bem. Hoje, já não me fecho tanto, procurando evitar contato com os outros para não cair neste erro. Estou encarando a vida "e me assustei: não sou perfeito", mas não desisto da busca pelo sentido, e tento me policiar quanto ao julgamento e preconceito. Óbvio: sou cristão, ou, ao menos, procuro ser. É interassante como a autora afirma "Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen (...)". Se a pessoa quiser ser um santo é vista como doida ou deve ir para um mosteiro. Bem, tomo antipsicóticos; alguns me acusam de charlatão (exagêro); já quis ser monge zen... Que bom! To no caminho.

P. S.: Não que eu queira ser um santo; é mais uma questão de dever; mas ainda estou bem distante de encarar o que tenho que fazer e não quero fazer. Um cristão realmente consequente não louva Cristo: quer ser como ele é.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A busca

"I wish I was special"
Radiohead

Penso eu que todo ser humano tem, no fundo de si, uma vontade esmagadora de comunicar ao universo: ESTOU VIVO!!! Toda vaidade, luta pelo poder, fama, realização, seja lá o que for, no fundo é um desejo de se sentir vivo. Mais que isso, comunicar ao universo que se está vivo. Isto tem outro nome: vida eterna. Talvez, quando consigamos comunicar ao universo que estamos vivos seja o dia em que ganhamos a vida eterna. Acontece que o universo é mais do que podemos ver. Limitar-se a comunicar sua existência apenas aos seres terrenos não é nem metade do caminho. Quando percebemos a tarefa enorme que é comunicar a tudo que existe que existimos, vem, imediatamente a pergunta: "ser ou não ser? eis a questão".