quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eu não era assim, não...

"Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor. Mentira!"
Chico Buarque cantando não sei quem.

Até meus 17 anos eu era uma pessoa. A partir de então me transformei em outra oposta ao que era. Eu era alegre. Praticava esportes. Fui goleiro do time de futebol de salão do colégio. Lateral esquerdo num time de futebol de campo. Pivô no time de handball da escola. Ia pro campinho de terra batida do bairro jogar bola com os meus vizinhos e voltava imundo pra casa com preguiça de tomar banho. Sempre fui tímido. Era goleiro por não ter coragem de jogar na linha; era pivô por não conseguir ser um jogador de meia no handball. Mas, no fundo, eu sempre queria ser o armador central, o atacante do time. Até os meus 17 anos isso não me incomodava. Fazia sucesso na escola entre as meninas e não pegava nada. Sempre me reprimindo, sempre. Como falei, o fato de me reprimir não me incomodava. Um dia, numa prova de química, fui o primeiro a terminar o teste. Levantei-me da cadeira e fui até a professora entregar o exame. Em seguida sai da sala e fui para o pátio do colégio. Alguns colegas me pediram cola. Não tive coragem de passar por medo de ser pego em flagrante. Após todos concluírem suas provas, a professora me chamou. "Leone, menino! Como é que tu faz uma prova desas!". Ela começou a puxar minha orelha. "Sabe quanto tu tirou?". "Não...", falei olhando pra baixo. "Dez! Rapaz tu tem que confiar em ti". A mesma professora um dia escolheu um aluno para representar o colégio em uma olimpíada de química. "Por que não o Leone?", perguntavam atônitos meus colegas de classe por eu não ter sido o escolhido. "Ele não confia em si...", ela respondeu.
A despeito de tudo isso, sempre tive uma grande força interna. Quando metia uma coisa na cabeça não tinha santo que me fizesse desistir. Aos 16 anos quis ir fazer o convênio em Belém. "Tu não vai para Belém de jeito nenhum!", falou minha mãe que anos depois confessou que só estava me testando. "Eu vou para Belém nem que eu tenha que morar de baixo da ponte!", respondi na época.
Cheguei a Belém. Convênio no Ideal, um dos melhores colégios do Estado do Pará. Acordava todo dia de manhã cedo; às vezes chegava atrasado, mas chegava. Encasquetei que eu tinha que ir para o CE Militar (naquele tempo os cursos eram divididos em CH, CB e CE: ciências humanas, biológicas e exatas). O CE Militar era a elite do Ideal. "Os loucos". Seis Professores de matemática, quatro de química e quatro de física. Aulas de manhã e a tarde. Simulados aos finais de semana. Os integrantes da turma pretendiam passar no ITA, IME, AFA, ESPECEX, e outras. Eu só queria Ciência da Computação na UFPA, o que por si só já era um grande desafio.
Era o ano de 1999. No mei0 do ano ela surgiu. Uma mulher, amiga dos meus companheiros de apartamento, veio estudar em Belém e veio morar conosco. Apaixonamos-nos. Dormíamos no mesmo quarto. Ela passou para o vestibular em São Paulo, eu em Belém. Ela foi embora e meu mundo caiu. Segundo minha psicóloga eu vivia numa bolha. Garoto de família, inteligente, sempre teve tudo. Quando passei pela minha primeira perda tudo desandou. É verdade, eu já tinha uma tendência latente para problemas psicológicos. Um primo meu perdeu a cabeça por causa de mulher. Meu pai é completamente dependente da minha mãe emocionalmente. Ambos fazem tratamento psiquiátrico. Meu primo está muito bem. Médico, casado, superou o trauma. Já meu pai...
Os dois anos seguintes, 2000 e 2001, foram de muita depressão. Eu ficava horas deitado pensando e sofrendo, consumindo-me. Para completar a história, conheci uma pessoa que me apresentou o mundo das trevas e seus encantos. Comecei a escrever, dar uma de artista. O cultivo pelo sofrimento passou a ser uma espécie de diferenciador das "pessoas comuns". Neste período os primeiros instintos megalomaníacos começaram a aparecer. A vontade de ser belo, de brilhar, algo que eu sempre tive, mas reprimira, começou a ser mais forte que minha conformação por não ser o que eu desejava. A carga negativa da perda da mulher amada foi se desenvolvendo num ciclo de retroalimentação. Meu corpo, lentamente, estava se transformando numa grande massa de energia negativa. Justo eu, que era tão alegre.
Em 2002 passei no concurso da Caixa Econômica Federal. Abandonei a faculdade e, 10 meses depois, aband0nei também o emprego depois de sofrer minha primeira crise. Voltei para Macapá. Passei o ano de 2003 às traças, sem eira nem beira. Em 2004 voltei para Belém. Este foi o ano de minha segunda grande paixão. Como um corredor de uma prova com bastão, a mulher amada mudou, mas o sentimento era o mesmo. Conheci o PSTU e as teorias das conspirações e o movimento para conquistar o mundo. "Despertei do meu sono dogmático", nas palavras de Kant. A vida passou a ter um sentido; a vida não tinha mais sentido sem um sentido para estarmos aqui. "Temos que fazer alguma coisa, porra!". Como sempre, mergulhei de cabeça. Drogas, movimento, mais drogas, excitação, viagens, álcool. Surtei. Desta vez "de cunforça". Atingi o auge da megalomania.
Hoje, estou tentando me livrar do sentimento de que sou o centro das atenções. Às vezes sinto como se estivesse nu na frente das pessoas. "Por que pra ti é tudo tão definitivo?". Esta frase, dita por uma mulher, é que está me fazendo sobreviver. Está me salvando. Coloquei de lado o sentimento de perda da mulher amada, mas continua sendo o que mais quero na vida. Sofro de coração partido, ainda sofro de coração partido, mas isso não me impede mais de levar minha vida. Uma mulher me levou às trevas, outra está me conduzindo à luz.
Li em algum lugar que a consciência só vem com amor. Hoje em dia, sei do meu grande potencial. Só tenho que decidir ainda se vou colocá-lo em prática ou não e, principalmente, estou aprendendo a reconhecer que não sou perfeito e estou procurando evitar a mania de perfeição. Tenho que aprender as qualidades da competitividade e saber competir, dialogar, interagir com as diferenças, negociar. O que mais quero hoje é ser auto-determinado, não importando tanto se vou ser grande ou não, mas, sim, auto-determinado, livre pra fazer o que eu quiser da minha vida. Se terei a mulher dos meus sonhos, não sei mais. Não sei até que ponto isso depende mim. Antes achava que a teria ou seria o fim. Procuro não determinar mais, mesmo correndo o risco de perdê-la. Foi uma questão de sobrevivência. Só sei que, às vezes, quando me pego triste, penso nela e tudo fica bem, ganha cor. Como disse o personagem principal do filme "O náufrago" quando soube que sua mulher pensava que ele tinha morrido e se casou com outro: "Tenho que seguir em frente. A maré me trouxe a vela e eu sai da ilha. Vamos ver o que a maré ainda pode me trazer".


domingo, 24 de outubro de 2010

Leitura da vez: Contos: Tchekhov

"A vodca aqueceu-lhe o peito. Ficou olhando os seus amigos, comovido, admirando-os e invenjando-os. Como nessa gente sadia, forte, alegre, tudo está equilibrado, como em suas almas e cérebros tudo está aplainado e concluído! Eles cantam, amam apaixonadamente o teatro, desenham, falam muito, bebem, e não lhes dói a cabeça no dia seguine; são., ao mesmo tempo, poéticos e devassos, ternos e insolentes; tanto sabem trabalhar como indignar-se, tanto rir sem motivo como dizer bobagens; ardosos, honestos, abnegados, não são, como pessoas, em nada piores que ele, Vassíliev, que vigia cada um dos seus próprios passos e cada palavra sua, que é desconfiado, cauteloso e pronto a promover cada insignificância à categoria de problema. E ele quis, pelo menos uma noite, viver como seus amigos, soltar-se, livrar-se do seu próprio controle. Será preciso tomar vodca? Tomá-la-á, mesmo que no dia seguinte a cabeça lhe estoure de dor. Levam-no à uma casa de mulheres? Ele vai. Há de dar gargalhadas, brincar, responder alegremente às provocações dos transeuntes..."

Tchekhov - A crise. Contos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Interlúdio

UM POEMA TAOÍSTA

O concreto nem sempre é reto
nas mãos de um bom arquiteto

O esperto nem sempre está certo
sempre há o mais esperto por perto

De fato, o correlato do abstrato
é o concreto pelo qual se faz ato

E o concreto se esvai no abstrato
Desfeito pelo pensamento inato

Que une o abstrato e o concreto
como com a imagem e seu objeto

Compreender este liame discreto
consiste o verdadeiro caminho reto

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O Jogo

"Ah, e não se esqueça: não odeie o jogador, odeie o jogo"
Neil Strauss.

To no TCC. Meu projeto de continuar o post anterior terá que ser temporariamente suspenso. mesmo que eu tenha que escrever 200 palavras sobre aquilo, terei que fazer um tremendo esforço para organizar os dados. Mas, também é ruim deixar isso aqui parado. Postarei umas conclusões que to tirando ao ler o livro "O Jogo - a Bíblia da sedução". Mais que um manual para conseguir bocetas, é um verdadeiro tratado sobre a psicologia humana, principalmente a masculina. Recomendo seriamente. Talvez já tenha falado deste livro aqui, mas vá lá que seja.
Definitivamente, é a mulher quem faz o homem. A mulher, instintivamente sabe que certas vezes é preciso dissimular para poder manter o equilibrio, e elas buscam segurança no parceiro, alguém que, quando tudo estiver parecendo perdido, consiga dissimular que está tudo bem, por que, ao final das contas, tudo está sempre bem e acabará bem, pois as mulheres são seres de extrema fé. Acontece que o feitiço vira contra o feiticeiro. Os homens se tornam mestres da dissimulação e enganam as mulheres para ter sexo. Fingem, repito, FINGEM, serem seguros, quando na verdade são muito mais carentes e dependentes do que as mulheres. Mas, definitivamente, é preciso saber fingir que é seguro. Este é meu desafio.
Via de mão dupla. A melhor coisa do mundo é viver para outra pessoa, é servir. As mulheres também sabem isso desde cedo. Elas treinam os homens a se importar com outras coisas que não eles mesmos. Os homens, na sua busca por bucetas, adquirem intuição e, como sempre superam tudo que querem, podem até chegar a ganhar de qualquer mulher no quesito intuição. Tudo o que uma mulher quer é servir loucamente um homem que queira servi-las, pois a única habilidade a qual um homem jamais poderá superar uma mulher é a capacidade de servir. Obviamente, o homem vai para o espaço quando elas têm filhos. Esse é o drama masculino: o homem some para mulher depois que ela tem filho.
Outro treinamento que o homem recebe é se livrar das emoções. O homem tem que se despir de qualquer fraqueza emocional. Isto só é permitido às mulheres. O homem, para servi-las, deve não acreditar no amor, não se apegar ou acreditar que é amado. Sou muito bom no segundo quesito: ninguém me ama, ninguém me quer. Quando ao primeiro to quase lá, pra não dizer que já consegui. Mulheres, vocês não sabem o quanto isso é ruim. Mas elas têm um motivo: elas querem que aquele troglodita social se revele um bebê prematuro só pra elas, pra elas poderem dizer em secreto para suas amigas. Quão egoístas vocês são, meu Deus!
Deixo a ressalva que isto tudo é construído socialmente e estas interpretações se manifestam em cada pessoa de maneira diferente, se é que são validas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

The Wall

"All in all it's just another brick in the wall."
Pink Floyd

Este é um projeto que queria executar, mas a preguiça não permitia: minha interpretação do The Wall. Pra mim, é a maior obra artística já feita na humanidade! (Lembrem-se: "exagerar é minha profissão." - Weber). Claro, umas escolha puramente pessoal. Identificação total. Postarei primeiramente o trecho mais importante da obra, quando a trama se fecha. Num segundo post farei meu comentário.

Faixa: "Stop!"

Pink (personagem principal do drama) :
-Stop!
I wanna go home
Take off this uniform
And leave the show.
But I'm waiting in this cell
Because I have to know.
Have I been guilty all this time?


Faixa: "The Trial"
*Promotor:
-Good morning, Worm your honor.
The crown will plainly show
The prisoner who now stands before you
Was caught red-handed showing feelings
Showing feelings of an almost human nature;
This will not do.

*Worm (O juiz):
-Call the schoolmaster!

*Professor:
-I always said he'd come to no good
In the end your honor.
If they'd let me have my way I could
Have flayed him into shape.
But my hands were tied,
The bleeding hearts and artists
Let him get away with murder.
Let me hammer him today?

Pink:
-
Crazy,
Toys in the attic I am crazy,
Truly gone fishing.
They must have taken my marbles away.

Coro:
-
Crazy, toys in the attic he is crazy.

Ex-Mulher:
-
You little shit you're in it now,
I hope they throw away the key.
You should have talked to me more often
Than you did, but no! You had to go
Your own way, have you broken any
Homes up lately?
Just five minutes, Worm your honor,
Him and Me, alone.

Mãe:
-
Baaaaaaaaaabe!
Come to mother baby, let me hold you
In my arms.
M'lud I never wanted him to
Get in any trouble.
Why'd he ever have to leave me?
Worm, your honor, let me take him home.

Pink:
-
Crazy,
Over the rainbow, I am crazy,
Bars in the window.
There must have been a door there in the wall
When I came in.

Coro:
-
Crazy, over the rainbow, he is crazy.

Worm (o juiz):
-
The evidence before the court is
Incontrivertable, there's no need for
The jury to retire.
In all my years of judging
I have never heard before
Of someone more deserving
Of the full penaltie of law.
The way you made them suffer,
Your exquisite wife and mother,
Fills me with the urge to defecate!

Platéia:
-
"Hey Judge! Shit on him!"

Worm (o juiz):
-
But, my friend, you have revealed your
Deepest fear,
I sentence you to be exposed before
Your peers.
Tear down the wall!



P.s: Hoje em dia, nos momentos raros em que penso em suicídio, é exatamente buscando o que o Pink queria: julgamento.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A questão da Verdade

"Vimos que o verdadeiro e o falso dependem de como se manifesta ou se torna patente o ser das coisas. Verdade ou falsidade só existem no âmbito da verdade em sentido amplo, entendida como alétheia, como desocobrimento, desvelamento ou patenteamento. E as coisas se manifestam de modo eminente no dizer, quando se diz o que são, quando se enuncia seu ser. Por isso Aristóteles diz que o lugar natural da verdade é o juízo. Quando digo A é B, enuncio necessariamente uma verdade ou uma falsidade, o que não ocorre em outros modos da linguagem, por exemplo num desejo ("tomara que chova") ou numa exclamação ("ai!"). O dizer enunciativo coloca as coisas na verdade. Mas é claro que essa possibilidade funda-se no caráter de verdade das próprias coisas, na possibilidade de seu patenteamento.
A verdade mostra o ser de uma coisa, a falsidade o suplanta por outro. No juízo verdadeiro, uno o que na verdade está unido, ou separo (em juízo negativo) o que está separado, ao passo que no juízo falso faço o contrário."
"O ceticismo nega que seja possível conhecer a verdade, o relativismo admite que tudo por ser verdade, mas que esta é relativa (...)."
Marías, Julian - História da Filosofia
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A busca pela verdade consiste na busca por um método de encontrar a verdade, distinguir o verdadeiro do falso dentro do ponto de vista adotado. 1 + 1 = 2. Isto é verdade dentro do conjunto dos números naturais, mas no conjunto dos números binários o resultado é 10. Essa busca fundou toda a filosofia e por conseguinte a ciência. É o motor da vida.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Uma meia-verdade

"Are you such a dreamer to put the world to rights? I'll stay home forever. Where two & two always makes up five".
Radiohead


"É hora de os escritores admitirem que nada neste mundo faz sentido. Só tolos e charlatães pensam que sabem e compreendem tudo. Quanto mais estúpidos são, mais amplos supõem ser seus horizontes. E se um artista decide declarar que não entende nada do que vê - isto por si só constitui uma considerável clareza na esfera do pensamento e um grande passo adiante".

Tchekhov - Citado por Francine Prose em Para ler como um escritor

Ela continua após a citação:

"Todo grande escritor é um mistério, ainda que apenas porque algum aspecto de seu talento permanece para sempre inefável, inexplicável e assombroso. A simples população da imaginação de Dickens, a arquitetura fantástica que Proust constrói a partir de momentos minuciosamente examinados. Perguntamos a nós mesmos: como pôde alguém fazer isso? E, é claro, diferentes qualidades da obra assombrarão diferentes pessoas. Para mim, o mistério de Tchekhov é antes de mais nada de conhecimento: como pode ele saber tanto? (nota do blogueiro: quem está escrevendo é uma mulher, não é por acaso sua atração pelo conhecimento) Ele sabe tudo que nos orgulhamos de ter aprendido, e muito mais. 'Festa do santo do dia', uma história sobre uma mulher grávida, é cheia de observações sobre a gravidez que eu pensava serem segredos que só gravidas conheciam.
(...)
Para mim, porém, o maior mistério é essa questão a que ele (Tchekhov) está sempre aludindo em suas cartas: a necessidade de escrever sem julgamento. Não dizer: 'Roubar cavalos é mal'. Não ser o juiz dos próprios personagens e de suas conversas, mas sim o observador imparcial. Certamente Tchekhov não vive sem julgamento. Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen que se exercitaram para suspender toda reflexão, seja moral ou de outros tipos. Minha impressão é que viver sem julgamento é uma má idéia (nota - desta vez machista- do blogueiro: não esqueçam: é uma mulher!). E, mais uma vez, nada disso é exigido do escritor. Balzac julgava todas as pessoas e achava que quase todas deixavam a desejar; a mesquinhez delas e a ferocidade de seu ultraje é parte da grandeza de sua obra. Mas Tchekhov acreditava - e punha essa idéia em prática mais do que qualquer escritor em que eu possa pensar - que julgamento e preconceito são imcompatíveis com certo tipo de arte literária. É por isso que , por razões que ainda não posso realmente explicar, sua obra me reanimava de maneiras que a de Balzac simplesmente não conseguia".

Francine Prose - Para ler como escritor (grifos do blogueiro)

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"(...) julgamento e preconceito são incompatíveis com certo tipo de arte literária". Acredito que julgamento e preconceito são incompatíveis com qualquer tentativa de viver bem. Hoje, já não me fecho tanto, procurando evitar contato com os outros para não cair neste erro. Estou encarando a vida "e me assustei: não sou perfeito", mas não desisto da busca pelo sentido, e tento me policiar quanto ao julgamento e preconceito. Óbvio: sou cristão, ou, ao menos, procuro ser. É interassante como a autora afirma "Não sei se alguém o faz, ou se isso é sequer possível, exceto para psicóticos e monges zen (...)". Se a pessoa quiser ser um santo é vista como doida ou deve ir para um mosteiro. Bem, tomo antipsicóticos; alguns me acusam de charlatão (exagêro); já quis ser monge zen... Que bom! To no caminho.

P. S.: Não que eu queira ser um santo; é mais uma questão de dever; mas ainda estou bem distante de encarar o que tenho que fazer e não quero fazer. Um cristão realmente consequente não louva Cristo: quer ser como ele é.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A busca

"I wish I was special"
Radiohead

Penso eu que todo ser humano tem, no fundo de si, uma vontade esmagadora de comunicar ao universo: ESTOU VIVO!!! Toda vaidade, luta pelo poder, fama, realização, seja lá o que for, no fundo é um desejo de se sentir vivo. Mais que isso, comunicar ao universo que se está vivo. Isto tem outro nome: vida eterna. Talvez, quando consigamos comunicar ao universo que estamos vivos seja o dia em que ganhamos a vida eterna. Acontece que o universo é mais do que podemos ver. Limitar-se a comunicar sua existência apenas aos seres terrenos não é nem metade do caminho. Quando percebemos a tarefa enorme que é comunicar a tudo que existe que existimos, vem, imediatamente a pergunta: "ser ou não ser? eis a questão".

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Epitáfio

Quando eu morrer, quero esta estrofe como epitáfio:

Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar

Emoções - O Rei

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Isto é se-rís-si-mo.

"Amar a Deus sobre todas as coisas". Deus é o Amor. "Amar o Amor sobre todas as coisas". Esta é a salvação.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Dostô

Para Lóri,

"Não consegui chegar a nada, nem mesmo torna-me mau: nem mau, nem bom, nem canalha, nem honrado, nem herói, nem inseto. Agora, vou vivendo os meus dias em meu canto, serrazinando a mim próprio com o consolo raivoso - que para nada serve - de que um homem inteligente não pode mesmo, a sério, tornar-se algo, e de que somente os imbecis o conseguem."

Fiódor Dostoiévski
Memórias do subsolo

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Santidade: fazer tudo de bom, conquistar todas as vitórias possíveis e impossíveis e continuar pensando como dito acima. Devemos saber que somos Deus sem, jamais, se sentir Deus. Isso é meio triste. Perdemos o direito de se exaltar, coisa que parece ser tão boa. É como um anjo que olha o amor dos homens e se sente tentado a experimentar, mas no momento mesmo em que fizer isso, perde sua perfeição. Saber que é sem se sentir que é (ser ao invés de ter) é viver num eterno estado de contemplação, e não é muito diferente de ser uma pessoa comum, às vezes triste, às vezes alegre, às vezes confiante, outras vezes inseguro. Mas sempre sabendo que o infinito das possibilidas se encontra em seu ínfimo ser. Podemos ser o eterndo Devir, o eterno vir-a-ser. Ser o próprio Ser implica em poder ser qualquer coisa, de bom ou ruim, conforme o outro diz que somos. Embora estejamos firmes na contemplação de nós mesmos, no amor pelo que somos. Narcisismo, outra vez. Repetindo: sem sentir que é. Olhar a imagem no espelho sabendo que nunca poderemos tocá-la. É a eterna busca por si mesmo.