segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Digressão

O ser está no oculto

No lado escuro da lua
Esconde-se o sentido de tudo
O fim de toda a procura
A própria origem do mundo

Olho a lua cheia
Queria ser lua cheia
Como se só existisse lua cheia

Mas no lado escuro da lua
Está a coroa do universo
O fim de toda procura
Onde o Uno se faz Verso

O que quero dizer? O Quê?

Que o lado escuro da lua
E a própria lua cheia
É uma e mesma figura
O ser que tudo permeia

Contemplo o oculto

A pedra como vulto

O pensamento como pedra:
O escuro nunca foi tão claro

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nietzsche e Física Quântica

"Ao invés de querer entortar a colher, mentalize a verdade: não existe colher" - Um dos aprendizes da Oráculo conversando com Neo em Matrix.

"As propriedades de uma coisa são efeitos de outras 'coisas': se removermos as outras 'coisas', então uma coisa não tem propriedades, i. e., não há uma coisa sem outras coisas, i.e. não há a 'coisa em si'". Nietzsche - Vontade de Potência - 557

"Supondo que não há qualquer 'A' auto-idêntico, ao contrário do que se pressupõe em toda a proposição da lógica (e da matemática), e o 'A' fosse já mera aparência, então a lógica teria um mundo meramente aparente como sua condição [...] o 'A' da lógica é, como o átomo, a reconstrução de uma coisa". Nietzsche - Vontade de Potência - 516

"O que poderia ser maisl louco do que a rejeição de que A=A? Contudo, quando uma afirmação deste tipo é reinserida no contexto do anti-realismo de Nietzsche sobre as coisas, começa a fazer sentido. Uma vez mais, a crítica de Nietzsche tem menos a ver com o conceito de identidade sincrónica do que com uma crítica da ideia de que há coisas reais que possam ser auto-idênticas. Se não há coisas genuínas, então não existem coisas que sejam auto-idênticas. Os objectos ficcionais, agrupados em feixes por via das perspectivas adoptadas quanto às propriedades, podem ser auto-idênticos, mas tal identidade é por isso perspectívica. (negrito do blogueiro). O argumento de Nietzsche é que não há qualquer identidade an sich, tal como não há coisas em si. Uma vez mais vemos que a crítica de Nietzsche é de facto sobre a aplicabilidade da lógica e sobre o realismo dos objectos, e não sobre a lógica em si". - Steven D. Hales. Artigo completo em Crítica na Rede: http://criticanarede.com/html/nietzlogica.html

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Existe um movimento entre alguns físicos que busca conciliar as descobertas da Física Quântica com ensinamentos místicos de diversas tradições. Segundo eles, os paradoxos da Física Moderna só podem ser assimilados dentro de uma perspectiva holística-espiritual. Armit Gowasmi, um hindu Phd em Física, escreveu um livro chamado "Universo autoconsciente - Como a mente cria o mundo material" no qual afirma que nossa mente modela o mundo ao nosso redor conforme nossos próprios paradigmas. Em uma entrevista ao programa Roda Vida (disponível em algum canto da internet), o Físico afirma que o mundo empírito é matematicamente inconscistente sem a presença de Deus, ou, do "Grande Observador". Todo fenômendo empírico para se concretizar necessita de uma entidade subjetiva que o registre. Ainda mais: esta entidade subjetiva possue autonomia para modificar a realidade empírica. Isto põe por terra todas as pretensões do realismo. Como Nietzsche afirmou ainda no século XIX, a realidade é um colapso de nossa vontade, de nossas crenças. As coisas são criadas, ou melhor, moldadas segundo nossa intenção. Neste paradigma, transformar água em vinho seria algo plenamente possível. Os físicos quânticos demonstram como em última instância a realidade é uma coisa só. Estamos todos concetados e o mundo empírico é a manifestação de uma vontade superior, uma consciência/subjetividade superior. Um elétron pode assumir a forma de onda ou partícula e o que determina isso é o observador. O século XXI poderá ser o século o qual Nietzsche será compreendido.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poema manifesto

Mundo desencantado

Mataram a rima
Ora, quem? Adivinha!
Quem se não o burguês
Que só o ouro estima

Mas... somente ele?
Falo também do freguês
E levado pela raiva que domina
Chamo-o prostituta com salário por mês

Mataram a rima
Mais um culpado. Adivinha!
A tal modernidade de passo agalopado
Que pra ontem quer o que nem imagina

Culpados, existem mil
E a maré, pra onde caminha?
Serei eu um caduco senil?
Que estancou no fim da linha?

Mataram a rima. O muro caiu
O sonho se foi e com ele o pavio
Explosão agora é coisa vil
Burgês e freguês deixaram a rinha

E o valor que hoje predomina
É o remédio controlado dos vencedores
Receituado aos fregueses perdedores
Dando-lhes produtos ao invés de auto-estima

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Escafândro e a Borboleta

Uma inspiração que se acomodou bem na proposta do filme de mesmo nome.

O ESCAFÂNDRO E A BORBOLETA

Aqui
De dentro...
Contemplo a imensidão
Do sem fim

Fuga
Como alento...
E um rastro de cacos
Atrás de mim

Pois sou eu...
Meu próprio centro
Duro...
Como marfim

Você olha
O casulo...
E acha que eu
Estou assim...

Prolongando...
O inevitável
Ficando dentro
De mim...

Mas te digo...
Ó inescrutável!
Já estou voando
Pelo jardim...

Fugi
Pelo ponto cego...
E você não viu
Ficando assim...

Olhando
Para o casulo
Esperando...
Por mim

Enquanto eu...
Borboleta!
Estou no futuro
Procurando...

Por mim


p.s.: Argh! Uma hora eu consigo dar o ritmo que está na minha cabeça ao poema. Eu deveria mesmo era compor músicas...

domingo, 26 de dezembro de 2010

A grande cagada do mundo: O mercado

"Can't you see
It all makes perfect sense
Expressed in dollars and cents,
Pounds, shillings and pence
Can't you see
It all makes perfect sense" - Roger Waters (Dec. de 1980)

"We are the dollars and cents and the pounds and pence
and the mark and the yen, and yeah
We’re gonna crack your little souls, crack your little souls" - Radiohead

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"A few months ago, I mentioned that I was going to write an angry
email. I've been trying to hold it in, but can't anymore. Here's
the deal:

The seduction community is dead.

It has been replaced by the seduction industry.

And this has not been a good thing for men.

When I first discovered this world, there was very little happening
commercially--mostly just Ross Jeffries doing seminars. Eventually,
Mystery invented the concept of the seduction workshop and David
DeAngelo brought modern Internet marketing into the subculture.
But most of the other "gurus" weren't in the game for financial
reasons. They were there to share their knowledge. And overall, this
shared body of knowledge was something that almost every
PUA (Pick-Up Artist: Artista da Sedução no Brasil) -
whether rivals or not, commercial or not-regularly added to.

But things have splintered now, largely due to the intense
competition for the AFC (Average Fucking Chump:
Tolo Frustrado Médio no Brasil) dollar. Though there were inklings of this
happening at the end of the Game, if there has been any negative
impact of the success of the book, it has been the explosion of
cheap marketing and unqualified instructors. Where the experts
once sat around and discussed newer and better techniques
for approaching and attracting women, they now sit around and
discuss better ways to manipulate the men who want to learn this.

It's become confusing for guys getting into the game now, as
opposed to when it was centralized, because there are so many
search-optimized websites and forums with a commercial agenda
feeding them completely contradictory information and false
claims.

Although this has been going on for a while, I'm writing this
now because I've been getting an increasing number of emails
from guys saying they spent all this money on a seminar or a
workshop and they had a bad experience and now they're bitter and
angry about the game. They often end up becoming "trolls" and
starting "hater" websites instead of continuing down the path of
self-improvement."

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Neil Strauss, autor do livro "The Game", que no Brasil recebeu o
título "O Jogo: A Bíblia da Sedução".

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Foucault (Continuação do post anterior)

"Não me diga para permanecer o mesmo"
Frase de Foucault na capa da revista.

"Contrapondo-se às técnicas de conhecimento e de controle das subjetividades, Foucault entende que as lutas de resistência em torno do estatuto da individuação podem ser sintetizadas pela palavra de ordem seguinte: o objetivo principal, hoje, não é o de descobrirmos, mas o de nos recusarmos a ser o que somos. Não se trata de encontrar nosso eu no mundo, mas de inventarmos nossa subjetividade. Antes de ser produto de um encontro, a subjetividade é o resultado de um processo inventivo. De tal modo que a luta pela liberdade se inicia na própria esfera subjetiva. A questão, assim, é produzir, criar, inventar novos modos de subjetividade, novos estilos de vida, novos vínculos e laços comunitários, para além de formas de vida empobrecidas e individualistas implantados pelas modernas técnicas e relações de poder."

Guilherme Castelo Branco - Prof. do departamento de Filosofia da UFRJ. Foucault em três tempos. Matéria da Revista Mente-Cérebro & Filosofia, Edição nº 6.

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Quando uma Igreja prega "aceite Jesus!", ou um partido revolucionário brada "morte ao capitalismo!", estas organizações estão propondo ao indivíduo que ele construa uma nova subjetividade, e isto é bem tentador. Num mundo pós-moderno onde os vínculos sociais se encontram frouxos, este apelo traz o consolo do pertencimento a um grupo , fonte de identidade. Aliás este conceito hoje só tem serventia global para justificar uma guerra contra o "eixo-do-mal". Não é à toa que um grupo como o Tea Party causou tanto estrago nas últimas eleições norte americanas. Um paradigma bem fundamentado - acreditem vocês ou não, eles são bem fundamentados - com uma base social sólida é a maior droga que existe.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O drama de ser revolucionário hoje

Aviso: Ao postar o que se segue, dei-me a permissão de usar o martelo.

"Para os pós-modernistas, em caso contrário, modos de vida totais devem ser louvados quando se tratam de dissidentes ou grupos minoritários, mas censurados quando se trata das maiorias. As 'políticas de identidade' pós-modernas incluem assim o lesbianismo, mas não o nacionalismo, o que, para os radicais românticos mais antigos, ao contrário dos radicais pós-modernos mais recentes, seria algo de totalmente ilógico. O primeiro grupo, vivendo em certa era de revolução política, estava protegido do absurdo de acreditar que movimentos majoritários ou consensuais são invariavelmente ignorantes (grifo do blogueiro e adendo: esta é, realmente e infelizmente, a crença dos intelectualóides de hoje). O segundo grupo, florescendo em uma fase posterior e menos eufórica da mesma história, abandonou a crença em movimentos de massa radicais, sobretudo porque há muito poucos deles dos quais se lembrar. Como teoria, o pós-modernismo aparece depois dos grandes movimentos de libertação nacional dos meados do século XX, e é ou literal ou metaforicamente jovem demais para recordar-se de tais clataclismos políticos."

Terry Eagleton - A idéia de cultura

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eu não era assim, não...

"Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor e dou risada do grande amor. Mentira!"
Chico Buarque cantando não sei quem.

Até meus 17 anos eu era uma pessoa. A partir de então me transformei em outra oposta ao que era. Eu era alegre. Praticava esportes. Fui goleiro do time de futebol de salão do colégio. Lateral esquerdo num time de futebol de campo. Pivô no time de handball da escola. Ia pro campinho de terra batida do bairro jogar bola com os meus vizinhos e voltava imundo pra casa com preguiça de tomar banho. Sempre fui tímido. Era goleiro por não ter coragem de jogar na linha; era pivô por não conseguir ser um jogador de meia no handball. Mas, no fundo, eu sempre queria ser o armador central, o atacante do time. Até os meus 17 anos isso não me incomodava. Fazia sucesso na escola entre as meninas e não pegava nada. Sempre me reprimindo, sempre. Como falei, o fato de me reprimir não me incomodava. Um dia, numa prova de química, fui o primeiro a terminar o teste. Levantei-me da cadeira e fui até a professora entregar o exame. Em seguida sai da sala e fui para o pátio do colégio. Alguns colegas me pediram cola. Não tive coragem de passar por medo de ser pego em flagrante. Após todos concluírem suas provas, a professora me chamou. "Leone, menino! Como é que tu faz uma prova desas!". Ela começou a puxar minha orelha. "Sabe quanto tu tirou?". "Não...", falei olhando pra baixo. "Dez! Rapaz tu tem que confiar em ti". A mesma professora um dia escolheu um aluno para representar o colégio em uma olimpíada de química. "Por que não o Leone?", perguntavam atônitos meus colegas de classe por eu não ter sido o escolhido. "Ele não confia em si...", ela respondeu.
A despeito de tudo isso, sempre tive uma grande força interna. Quando metia uma coisa na cabeça não tinha santo que me fizesse desistir. Aos 16 anos quis ir fazer o convênio em Belém. "Tu não vai para Belém de jeito nenhum!", falou minha mãe que anos depois confessou que só estava me testando. "Eu vou para Belém nem que eu tenha que morar de baixo da ponte!", respondi na época.
Cheguei a Belém. Convênio no Ideal, um dos melhores colégios do Estado do Pará. Acordava todo dia de manhã cedo; às vezes chegava atrasado, mas chegava. Encasquetei que eu tinha que ir para o CE Militar (naquele tempo os cursos eram divididos em CH, CB e CE: ciências humanas, biológicas e exatas). O CE Militar era a elite do Ideal. "Os loucos". Seis Professores de matemática, quatro de química e quatro de física. Aulas de manhã e a tarde. Simulados aos finais de semana. Os integrantes da turma pretendiam passar no ITA, IME, AFA, ESPECEX, e outras. Eu só queria Ciência da Computação na UFPA, o que por si só já era um grande desafio.
Era o ano de 1999. No mei0 do ano ela surgiu. Uma mulher, amiga dos meus companheiros de apartamento, veio estudar em Belém e veio morar conosco. Apaixonamos-nos. Dormíamos no mesmo quarto. Ela passou para o vestibular em São Paulo, eu em Belém. Ela foi embora e meu mundo caiu. Segundo minha psicóloga eu vivia numa bolha. Garoto de família, inteligente, sempre teve tudo. Quando passei pela minha primeira perda tudo desandou. É verdade, eu já tinha uma tendência latente para problemas psicológicos. Um primo meu perdeu a cabeça por causa de mulher. Meu pai é completamente dependente da minha mãe emocionalmente. Ambos fazem tratamento psiquiátrico. Meu primo está muito bem. Médico, casado, superou o trauma. Já meu pai...
Os dois anos seguintes, 2000 e 2001, foram de muita depressão. Eu ficava horas deitado pensando e sofrendo, consumindo-me. Para completar a história, conheci uma pessoa que me apresentou o mundo das trevas e seus encantos. Comecei a escrever, dar uma de artista. O cultivo pelo sofrimento passou a ser uma espécie de diferenciador das "pessoas comuns". Neste período os primeiros instintos megalomaníacos começaram a aparecer. A vontade de ser belo, de brilhar, algo que eu sempre tive, mas reprimira, começou a ser mais forte que minha conformação por não ser o que eu desejava. A carga negativa da perda da mulher amada foi se desenvolvendo num ciclo de retroalimentação. Meu corpo, lentamente, estava se transformando numa grande massa de energia negativa. Justo eu, que era tão alegre.
Em 2002 passei no concurso da Caixa Econômica Federal. Abandonei a faculdade e, 10 meses depois, aband0nei também o emprego depois de sofrer minha primeira crise. Voltei para Macapá. Passei o ano de 2003 às traças, sem eira nem beira. Em 2004 voltei para Belém. Este foi o ano de minha segunda grande paixão. Como um corredor de uma prova com bastão, a mulher amada mudou, mas o sentimento era o mesmo. Conheci o PSTU e as teorias das conspirações e o movimento para conquistar o mundo. "Despertei do meu sono dogmático", nas palavras de Kant. A vida passou a ter um sentido; a vida não tinha mais sentido sem um sentido para estarmos aqui. "Temos que fazer alguma coisa, porra!". Como sempre, mergulhei de cabeça. Drogas, movimento, mais drogas, excitação, viagens, álcool. Surtei. Desta vez "de cunforça". Atingi o auge da megalomania.
Hoje, estou tentando me livrar do sentimento de que sou o centro das atenções. Às vezes sinto como se estivesse nu na frente das pessoas. "Por que pra ti é tudo tão definitivo?". Esta frase, dita por uma mulher, é que está me fazendo sobreviver. Está me salvando. Coloquei de lado o sentimento de perda da mulher amada, mas continua sendo o que mais quero na vida. Sofro de coração partido, ainda sofro de coração partido, mas isso não me impede mais de levar minha vida. Uma mulher me levou às trevas, outra está me conduzindo à luz.
Li em algum lugar que a consciência só vem com amor. Hoje em dia, sei do meu grande potencial. Só tenho que decidir ainda se vou colocá-lo em prática ou não e, principalmente, estou aprendendo a reconhecer que não sou perfeito e estou procurando evitar a mania de perfeição. Tenho que aprender as qualidades da competitividade e saber competir, dialogar, interagir com as diferenças, negociar. O que mais quero hoje é ser auto-determinado, não importando tanto se vou ser grande ou não, mas, sim, auto-determinado, livre pra fazer o que eu quiser da minha vida. Se terei a mulher dos meus sonhos, não sei mais. Não sei até que ponto isso depende mim. Antes achava que a teria ou seria o fim. Procuro não determinar mais, mesmo correndo o risco de perdê-la. Foi uma questão de sobrevivência. Só sei que, às vezes, quando me pego triste, penso nela e tudo fica bem, ganha cor. Como disse o personagem principal do filme "O náufrago" quando soube que sua mulher pensava que ele tinha morrido e se casou com outro: "Tenho que seguir em frente. A maré me trouxe a vela e eu sai da ilha. Vamos ver o que a maré ainda pode me trazer".


domingo, 24 de outubro de 2010

Leitura da vez: Contos: Tchekhov

"A vodca aqueceu-lhe o peito. Ficou olhando os seus amigos, comovido, admirando-os e invenjando-os. Como nessa gente sadia, forte, alegre, tudo está equilibrado, como em suas almas e cérebros tudo está aplainado e concluído! Eles cantam, amam apaixonadamente o teatro, desenham, falam muito, bebem, e não lhes dói a cabeça no dia seguine; são., ao mesmo tempo, poéticos e devassos, ternos e insolentes; tanto sabem trabalhar como indignar-se, tanto rir sem motivo como dizer bobagens; ardosos, honestos, abnegados, não são, como pessoas, em nada piores que ele, Vassíliev, que vigia cada um dos seus próprios passos e cada palavra sua, que é desconfiado, cauteloso e pronto a promover cada insignificância à categoria de problema. E ele quis, pelo menos uma noite, viver como seus amigos, soltar-se, livrar-se do seu próprio controle. Será preciso tomar vodca? Tomá-la-á, mesmo que no dia seguinte a cabeça lhe estoure de dor. Levam-no à uma casa de mulheres? Ele vai. Há de dar gargalhadas, brincar, responder alegremente às provocações dos transeuntes..."

Tchekhov - A crise. Contos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Interlúdio

UM POEMA TAOÍSTA

O concreto nem sempre é reto
nas mãos de um bom arquiteto

O esperto nem sempre está certo
sempre há o mais esperto por perto

De fato, o correlato do abstrato
é o concreto pelo qual se faz ato

E o concreto se esvai no abstrato
Desfeito pelo pensamento inato

Que une o abstrato e o concreto
como com a imagem e seu objeto

Compreender este liame discreto
consiste o verdadeiro caminho reto