quarta-feira, 31 de março de 2010

Futebol

"Nada me ensinou mais na vida do que o fato de ter sido goleiro"
Albert Camus

Há anos atrás comprei um livro de presente para o meu pai, "90 minutos de sabedoria: a filosofia do futebol em frases inesquecíveis", com seleção e organização de Ivan Maurício. Nele encontramos frases de escritores como Nelson Rodrigues, José Lins do Rego, João Cabral de Melo Neto, Vinícius de Moraes, Eduardo Galeano e outros. Com a morte do Armando Nogueira, que é autor de algumas frases que compõem a obra, resolvi fazer o que pretendia tempos atrás: postar algumas frases presentes na coletânia.

Não sei se já falei isto aqui e muito provavelmente já tenha dito, mas o futebol é a ciência do povo. O ser humano tem necessidade de usar a racionalidade do seu cérebro e o futebol fornece um conteúdo em uma linguagem simples. Só que esta simplicidade não limita a potencialidade de criação teórica que resulta em um bom papo. Existe muita tática no futebol, evolução de sistemas, criação e solução de problemas. Para citar um exemplo que tenho na cabeça, a linha de empedimento foi criada pelo Carrossel Holandês em 1974. Deu um nó no ataque dos outros times de tal forma que este recurso se tornou uma hunanimidade entre os times.

Agora, deixando de enrolação, vamos as frases.

"Ademir da Guia:
Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente, de alagados
entorpecendo então atando
o mais irrequieto adversário"

"Driblar é dar aos pés astúcias de mão."
João Cabral de Melo Neto

"Bola: Brinquedo mágico que se submete suavemente à vontade do homem."

"No passe o homem se afirma como animal sociável."

"Futebol é uma religião pagã, onde as pessoas se encontram para adorar a bola."

"A tabelinha de Pelé e Tostão confirma a existência de Deus."
Armando Nogueira

"Todo brasileiro entende a alma da bola, sabe tudo sobre ela."
Gilberto Gil

"Só o jogador medíocre solta a bola de primeira. O craque, o virtuose, o estilista, prende a bola. Sim, ele cultiva a bola como uma orquídea de luxo."

"A bola sabe quando vai ser gol e se ajeita para o gol."
(Nota do blogueiro: acreditem, isso é a mais pura verdade!)

"A bola tem um instinto clarividente e infalível que a faz encontrar e acompanhar o verdadeiro craque. Sim, amigos: há na bola uma alma de cachorra."

"Numa simples ginga de Didi, há toda uma nostalgia de gafieiras eternas."

"O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. OFla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E, então, as multidões despertaram."

"Pelé podia virar-se para Michelangelo, Homero ou Dante e cumprimentá-los com íntima efusão: -Como vai, colega?"
Nelson Rodrigues


"Em 1978, lembram?, O Brasil já na técnica da retranca, perdeu a Copa invicto. Empatou todas. Inventamos uma coisa extraordinária: a invictória"
Millôr Fernandes

"O craque não tem explicação. Ele é."
Tostão

"Há três poderes na Terra: Deus no céu, o Papa no vaticano e Dadá na grande área."

"Somente três coisas param no ar: o beija-flor, o helicóptero e o Dadá"
Dadá

"O drible de corpo é quando o corpo de tem presença de espírito."
Chico Buarque

"Futebol: É o único esporte coletivo em que o pior pode ganhar do melhor."
Sérgio Rêdes

"Garrinha: O anjo das pernas tortas."
Vinícius de Morais

"O pior é que as tristezas voltam e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."
Carlos Drummond de Andrade

"Posso ser um novo Di Stéfano, mas não posso ser um novo Pelé. Ele é o único que ultrapassa os limites da lógica."
Cruiff



sábado, 27 de março de 2010

O que tenho que superar

"Existe uma primeira forma de suicídio que a Antiguidade sem dúvida conheceu, mas que se desenvolveu sobretudo na época atual: o Raphaël de Lamartine nos oferece um tipo ideal dessa forma de suicídio. É caracterizada por uma forma de indolência melancólica que distende as molas da ação. O sujeito exprime um diferença e uma repugnância pelos negócios, pelas funções públicas, pelo trabalho útil e pelos próprios deveres domésticos. Repugna-lhe deixar de ser ele próprio. Em compensação, o pensamento e a vida interior contrabalançam a falta de atividade. Voltando as costas ao que o rodeia, a consciência concentra-se sobre ela própria, considera-se como seu próprio e único fim e dedica-se à tarefa de observação e análise interiores. Mas, em virtude dessa enorme concentração, torna ainda mais profundo o fosso que a separa do resto do universo. A partir do momento em que o indivíduo se apaixona até esse ponto por si próprio, desliga-se cada vez mais de tudo aquilo que não é ele para se consagrar ao isolamento em que vive, tornando-o, desse modo, maior. Não é olhando unicamente para si que poderá encontrar motivos que o levem a interessar-se por outra coisa além de si próprio. De certa forma, qualquer movimento é altruísta, pois é centrífugo e faz expandir o ser para fora de si próprio. Pelo contrário, a reflexão tem qualquer coisa de pessoal e de egoísta: pois só é possível a medida que o indivíduo se liberta do objeto e se afasta dele para regressar a si próprio, e é tanto mais intenso quanto esse retorno sobre sua pessoa é mais completo. Só se pode agir se se estiver integrado no mundo; pelo contrário, para pensá-lo é necessário que não se esteja confundido com ele, de forma a poder contemplá-lo do exterior; e com mais razão isto é necessário para se pensar a si próprio. Portando, todo aquele cuja a atividade se concentra no pensamento interior torna-se insensível a tudo que o cerca. Se ama, não é com o fim de se dar, de se unir em uma união fecunda com alguém que não ele; é para meditar no seu amor. As suas paixões só são aparentes porquanto são estéreis. Dissipam-se em vãs associações de imagens, sem lhe produzir nada que lhes seja exterior"

Durkheim - O Suicídio

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Do Amor

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
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Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor

(...)
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens
(...)
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
– Ó vida futura! Nós te criaremos.


Drummond

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Graças ao Sol

Coração pequeno
Sofro de coração pequeno
Isto é uma doença daquelas
Ditas do espírito
Sim! Porque há espírito
Ora, se não houvesse
não sei nem como seria
Porque há espírito
E sempre houve

Doença? Não...
Larga-te deste passado
De vergonha em Ser
Antes, sim, uma dádiva
Não fosse o coração pequeno

Mas existe o sol!
Porque há espírito
(nunca é demais repeti-lo)
E meu coração pequeno
Se contenta, se fortalece
Pois habita no universo uma força
Que faz tudo o que eu não posso fazer
E faz, e derrama, e há
É!
Transborda
Ama


sábado, 16 de janeiro de 2010

Ciências Sociais

"Nós somos o sistema"
Eliane Superti

Esta frase ai em cima é de uma professora minha de Ciência Política. Quando se estuda as Ciências Sociais percebemos o quanto nosso comportamento é modelado pelo meio em que vivemos. A realidade é construida socialmente. Levando ao extremo - como gosto de fazer - chego mesmo a pensar que o indíviduo é uma ilusão. O indivíduo é A Ilusão - o próprio diabo. A antropologia moderna derrubou algumas teses psicanalíticas. Ao analisar o comportamente de sociedades "primitivas" - termo ultrapassado, mas não consigo encontrar outro melhor para o propósito deste post - os transtornos identificados por Freud não foram encontrados. Claro, isso não derrubou a tese de que o inconsciente existe, mas os estudos mostraram que o comportamento psíquico é bem mais influenciado pela estrutura social do que poderíamos imaginar. Na maioria destas sociedades, onde a feitiçaria é algo comum, se um nativo for alvo de um feitiço que tenha por fim causar sua morte, ele acredita tanto nisso que chega a morrer. O meio social é capaz de provocar reações fisiológicas no indivíduo. A própria estrutura do nosso cérebro evoluiu ao longo do tempo conforme cresceram as atividades sociais do homem. A relação entre o ser individual e o ser social, que existe em cada ser humano, define quem somos.
Mas o pecado das Ciências Sociais, devido sua alta subjetividade, está na incapacidade de encontrar uma teoria final, um teorema. Seu estatus de ciência positiva está longe de ser alcançado, apesar de ter sido esta a intenção de seus fundadores. Baseada numa lógica própria, que ainda estou longe de compreender, as Ciências Sociais vivem em uma eterna "crise de paradigmas", sempre se renovando.
Enfim, este é o caminho que resolvi trilhar; muito mais por não desperdiçar o tempo que já empreendi. Estou contente e com perspectivas. Resta a questão de se esforçar. Ao final das contas, esta é sempre a grande questão.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O que Sou

"Eu Sou o medo do fraco"
Raul Seixas e Paulo Coelho

Uma única vez me senti grande, potente; foi quando perdi a cabeça. Hoje estou com ela no lugar, mas a sombra daquele momento infernal ainda ronda meu cotidiano.
Sempre tive a auto-estima baixa, apesar dos elogios que recebo desde que me entendo por gente. Ultimamente venho procurando fazer um exercício quando me pego diminuindo a mim mesmo. Penso que a única coisa que posso afirmar de mim é que "sou o que sou". Nada mais, nada menos. Os outros sabem mais deste aquariano típico do que eu poderia saber.

INTERLÚDIO

-Espelho, espelho meu: Existe alguém mais bela do que eu?
-Não, senhora.

Queria ser este espelho para todas as pessoas!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Mais uma vez Vitor Hugo

Este autor resumiu em uma frase toda a discussão entre racionalismo e empirismo da então modernidade. Ele fez isto ao expor a escolha de um marinheiro em usar um barco à vapor, uma audaciosa decisão para época (séc. XVIII ou XIX, não tenho certeza). Eis a frase:

"Seu Eu francês concebeu a idéia; Seu Eu inglês executou-a."

Genial.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Leitura da Vez

"Quem pensa manda. Quem sonha obedece".
Vitor Hugo - Os Trabalhadores do Mar

Por este ponto de vista pode ser explicado muito de minha subserviência.

Não sei se é viagem minha, mas parece que estou tendo uma nova relação com a literatura. Em determinados momentos parece que o texto se torna tão intenso que quase vira uma música linda. Já tinha acontecido isto antes. Paulo Coelho descreveu uma cena de assassinato em "O vencedor está só" tão sensitiva que quando o assassino enfiou a faca na vítima eu senti a faca entrando em mim. Pergunto-me se o autor tem o domínio desta função, se ele determina este jogo de emoções no leitor, esta capacidade que os textos têm mostrado de poderem se tornar uma montanha-russa de emoções sob o controle do escritor.

domingo, 29 de novembro de 2009

Pais e filhos

Para mim o ser humano perfeito teria a nobreza de coração do meu pai e o simancol da minha mãe. Meu pai tem um coração de Leão... e o comportamento também. Parece um troglodita. Minha mãe é um anjo. Me deixa plenamente à vontade. Inclusive para quebrar a cara. Mas eu prefiro isso do que alguém no meu pé (caso do meu pai). Só que a minha mãe é mulher, logo, desconfio da intencionalidade de todos os seus atos. Já disse à minha mãe: "confio mais no papai do que na senhora". Não importa o que eu fizer, minha mãe sempre estará do meu lado. Um pai... bem, um pai que passa a mão na cabeça do seu filho não é digno deste título. Eu estudava em colégio particular e meu pai, com completa condição de pagar uma escola particular, me pôs em uma escola pública porque "filho dele não estudaria em colégio particular". Foram precisos dois anos chegando mais cedo em casa porque não tinha aula mais a intervenção da minha mãe para que ele me colocasse novamente em colégio particular. As mulheres reclamam da relação mãe-filha. Não imaginam a tensão que é pai-filho. A síndrome de galo do galinheiro existe. Para um homem formado ter que receber ordens de outro homem dentro de sua casa só sendo de seu pai. E olhe lá! Só que os homens se contém mais do que as mulheres, segundo me disseram ou eu li. Enfim, tem muito mais coisas, mas o post já tá grande demais.

sábado, 14 de novembro de 2009

Blues

Que o Pink Floyd é minha banda preferida isto não é novidade. Que David Guilmour é o artista que mais me toca, talvez nem todos o saibam. A ligação entre blues e Pink Floyd eu já conhecia. Syd Barret uniu os nomes de dois blues man, Pink e Floyd, para dar nome à banda. Só que eu ainda não havia "sentido" esta ligação.
Um amigo meu, um cara que morava em uma praça em Belém, passou um tempo no apartamento comigo, em 2004, na dita cidade. Quando ele foi embora, esqueceu um CD coletânia do BB King. Uns dias atrás eu peguei para escutar. Foi mágico. Pude perceber toda a influência do blues no som do Pink Floyd.
Só que esta banda deu uma cara nova ao blues. O Pink conseguiu deixar o blues ainda mais blues, mais melancólico ou, "progressivo". Sem falar que é o som de uma BANDA, não de um blues man sozinho. Além do que Guilmour não procura imitar o vocal de um negro, como fez sem sucesso Eric Clapton. Só lembro de uma música, "Dogs of War", a qual Guilmour procura imitar a voz de um negro, o poder da voz de um negro. Somente um artista branco, na minha opnião, o conseguiu: Janis Joplin. Faço uma ressalva quanto ao Rolling Stones, que não conheço bem.


quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Dois Guias

Tenho dois guias. Um, bom, me diz o que fazer não me dizendo o que devo fazer. O outro, mal, me diz o que não devo fazer dizendo o que devo que fazer.