sábado, 11 de junho de 2011

ODE AO ITABIRANO

Deixar a mão escorregar.
Ah, se fosse tão simples assim,
caro itabirano, tenha certeza,
ai do alto do olimpo,
que minha tristeza não seria
tão triste
como a sua não foi.

Como fazer das letras
peças de uma equação?
Não, não és poeta,
caro itabirano, és, sim,
matemático, errático,
como se antigo grego
também fora.

Essa coisa de dizer
e não dizer; mostrar
e não mostrar; eclipsar
o próprio nada,
provoca náuseas na cabeça
e tontura no estômago.

Assim me (des) encontro
no rastro de tuas mãos:
Em parte também retorcido.
Maior parte, completamente
diminuto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Grito

Ponto de partida.

Eis que chega o dia.
Aquele tão esperado, aguardado.
Que vem como um verbo:
Acorda!
A água procura o caminho mais fácil.
A cobra também.
A primeira só quer voltar para fonte.
A segunda só quer saber de sapos.

O teto voa; a casa cai.
Nu me vejo sendo visto.
E o mundo inteiro brada:
Existo!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Poemeto

Sussurro

Queria escrever um poema.
Algo assim: simples e profundo.
E nesse querer, aprendi uma lição:
Que as musas inspiram,
mas não ensinam.

Malvadas!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O que sinto por dentro

GALOS, NOITES E QUINTAIS
Belchior

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:

Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais

sábado, 2 de abril de 2011

Série Rock Popular Brasileiro Vol. 1: IRA

Ao meu pai

Dias De Luta

Só depois de muito tempo fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito mas ele me disse pouco
Quando se sabe ouvir não precisam muitas palavras
Muito tempo eu levei pra entender que nada sei... que nada sei

Só depois de muito tempo comecei a entender
Como será meu futuro, como será o seu?
Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois
Cantar depois... o quê?!!

Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção o que cantarei depois

Só depois de muito tempo comecei a refletir
Nos meus dias de paz
Nos meus dias de luta
Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois?
Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois?

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Comentário:

Até meus 16 anos eu passava por cima de tudo. Apaixonei-me aos 17 e desde lá para cá tudo passa por cima de mim. Nem tanto hoje em dia, nem tanto. Mas o foco principal desta música é a primeira estrofe. Meu pai fala pouco, e eu gostaria de ouvir muito dele. Os homens respeitam muito uns aos outros pelo medo de sairem para porrada. Isso é escroto. Meu pai é a coisa mais profunda que posso conceber. Acredito que somente vou entendê-lo quando tiver um filho. Quando isso acontecer tenho medo de sofrer um grande arrependimento por não ter disposto do merecido cuidado para com meu pai. Com ele estou aprendendo que, apesar dos defeitos reconhecidos, podemos nos amar.

p.s.: Nunca achei que soubesse algo, mas hoje tenho consciência disso.

terça-feira, 15 de março de 2011

Sopa de palavras

Se quando outro sempre

É necessário chorar
de vez em quando.
É necessário viver
sempre.
Ai, esse de 'vez em quando'
e esse 'sempre'...
Quando 'quando'?
Quando 'sempre'?
Ainda tem o 'se'.
'Se' e 'quando'.
Sei que um é advérbio.
O outro eu não sei.
Olha só! O 'outro'.
Outra palavra
assim... 'quando',
assim... 'se'.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Primeiros Passos

A Imagem-Meta

Diante de Tua perfeição,
ó meu Pai,
o que fazer se não chorar?
Pois Tu és o que mais quero ser
e nego-me a Ti, como um tolo
com vergonha de ser feliz.

Tudo posso n´Aquele que me fortalece.
Soubera disso antes,
talvez não Te negasse tanto
hoje.

Enfim, estou na fila
aguardando o embarque
nesta montanha-russa
chamada vida.
Chega de desistir na porta.
Chega de pular do vagão
e beijar o chão.
Quero entrar novamente
e ser conduzido pelos altos e baixos
- não tenho mais medo
do frio na barriga.

Eu sou passarinho.
Quem me vê, não sabe,
mas eu sei.

Escorrega, dia,
que não quero mais te prender.
Escorrega, dia,
enquanto eu, escorregadio.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Digressão

O ser está no oculto

No lado escuro da lua
Esconde-se o sentido de tudo
O fim de toda a procura
A própria origem do mundo

Olho a lua cheia
Queria ser lua cheia
Como se só existisse lua cheia

Mas no lado escuro da lua
Está a coroa do universo
O fim de toda procura
Onde o Uno se faz Verso

O que quero dizer? O Quê?

Que o lado escuro da lua
E a própria lua cheia
É uma e mesma figura
O ser que tudo permeia

Contemplo o oculto

A pedra como vulto

O pensamento como pedra:
O escuro nunca foi tão claro

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Nietzsche e Física Quântica

"Ao invés de querer entortar a colher, mentalize a verdade: não existe colher" - Um dos aprendizes da Oráculo conversando com Neo em Matrix.

"As propriedades de uma coisa são efeitos de outras 'coisas': se removermos as outras 'coisas', então uma coisa não tem propriedades, i. e., não há uma coisa sem outras coisas, i.e. não há a 'coisa em si'". Nietzsche - Vontade de Potência - 557

"Supondo que não há qualquer 'A' auto-idêntico, ao contrário do que se pressupõe em toda a proposição da lógica (e da matemática), e o 'A' fosse já mera aparência, então a lógica teria um mundo meramente aparente como sua condição [...] o 'A' da lógica é, como o átomo, a reconstrução de uma coisa". Nietzsche - Vontade de Potência - 516

"O que poderia ser maisl louco do que a rejeição de que A=A? Contudo, quando uma afirmação deste tipo é reinserida no contexto do anti-realismo de Nietzsche sobre as coisas, começa a fazer sentido. Uma vez mais, a crítica de Nietzsche tem menos a ver com o conceito de identidade sincrónica do que com uma crítica da ideia de que há coisas reais que possam ser auto-idênticas. Se não há coisas genuínas, então não existem coisas que sejam auto-idênticas. Os objectos ficcionais, agrupados em feixes por via das perspectivas adoptadas quanto às propriedades, podem ser auto-idênticos, mas tal identidade é por isso perspectívica. (negrito do blogueiro). O argumento de Nietzsche é que não há qualquer identidade an sich, tal como não há coisas em si. Uma vez mais vemos que a crítica de Nietzsche é de facto sobre a aplicabilidade da lógica e sobre o realismo dos objectos, e não sobre a lógica em si". - Steven D. Hales. Artigo completo em Crítica na Rede: http://criticanarede.com/html/nietzlogica.html

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Existe um movimento entre alguns físicos que busca conciliar as descobertas da Física Quântica com ensinamentos místicos de diversas tradições. Segundo eles, os paradoxos da Física Moderna só podem ser assimilados dentro de uma perspectiva holística-espiritual. Armit Gowasmi, um hindu Phd em Física, escreveu um livro chamado "Universo autoconsciente - Como a mente cria o mundo material" no qual afirma que nossa mente modela o mundo ao nosso redor conforme nossos próprios paradigmas. Em uma entrevista ao programa Roda Vida (disponível em algum canto da internet), o Físico afirma que o mundo empírito é matematicamente inconscistente sem a presença de Deus, ou, do "Grande Observador". Todo fenômendo empírico para se concretizar necessita de uma entidade subjetiva que o registre. Ainda mais: esta entidade subjetiva possue autonomia para modificar a realidade empírica. Isto põe por terra todas as pretensões do realismo. Como Nietzsche afirmou ainda no século XIX, a realidade é um colapso de nossa vontade, de nossas crenças. As coisas são criadas, ou melhor, moldadas segundo nossa intenção. Neste paradigma, transformar água em vinho seria algo plenamente possível. Os físicos quânticos demonstram como em última instância a realidade é uma coisa só. Estamos todos concetados e o mundo empírico é a manifestação de uma vontade superior, uma consciência/subjetividade superior. Um elétron pode assumir a forma de onda ou partícula e o que determina isso é o observador. O século XXI poderá ser o século o qual Nietzsche será compreendido.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Poema manifesto

Mundo desencantado

Mataram a rima
Ora, quem? Adivinha!
Quem se não o burguês
Que só o ouro estima

Mas... somente ele?
Falo também do freguês
E levado pela raiva que domina
Chamo-o prostituta com salário por mês

Mataram a rima
Mais um culpado. Adivinha!
A tal modernidade de passo agalopado
Que pra ontem quer o que nem imagina

Culpados, existem mil
E a maré, pra onde caminha?
Serei eu um caduco senil?
Que estancou no fim da linha?

Mataram a rima. O muro caiu
O sonho se foi e com ele o pavio
Explosão agora é coisa vil
Burgês e freguês deixaram a rinha

E o valor que hoje predomina
É o remédio controlado dos vencedores
Receituado aos fregueses perdedores
Dando-lhes produtos ao invés de auto-estima