sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um dilema

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"Reside a honra do funcionário em sua capacidade de executar conscienciosamente uma ordem, sob responsabilidade de uma autoridade superior, mesmo que - desprezando a advertência - ela se obstine a seguir uma trilha errada. O funcionário deve executar essa ordem como se ela correspondesse a suas próprias convicções. Se carente dessa disciplina moral, no mais elevado sentido do termo, e sem essa abnegação, toda a organização ruiria. Contrariamente, a honra do chefe político consiste justamente na responsabilidade pessoal exclusiva por tudo quanto faz, responsabilidade que ele não pode rejeitar, nem delegar. Nesse sentido, os funcionários que têm visão moralmente elevada de suas funções são, necessariamente, maus políticos: não se dispõem a assumir responsabilidades no sentido político do termo e, desse ponto de vista, são, obviamente, políticos moralmente inferiores",

Weber. Ciência e Política: duas vocações. Martin Claret, p. 82.

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Líderes são necessários e a maior tarefa de uma liderança é capacitar outros para exercê-la. Um dos maiores problemas do mundo é a ausência de líderes. Alguns fatores impedem o florescimento destes tipos: medo de assumir responsabilidades; a conduta de alguns líderes que impedem que os outros cresçam; medo de falhar (nossa sociedade ainda é demasiadamente cruel com os que falham, levando as pessoas a não admitirem seus erros, fazendo com que todos vivam numa grande ilusão de perfeição). Existem diversos outros fatores, mas este não é o ponto. Ser um funcionário é apenas um momento que tem como fim exercer a liderança. A demanda por líderes é geométrica enquanto que seu nascimento segue uma progressão aritmética, ou seja: há espaço para todos.

Algumas pessoas possuem um senso moral tão elevado que obrigatoriamente só permanecem tranquilas como líderes. Mas o medo de assumir responsabilidades bloqueia estas pessoas e elas acabam que nem viram líderes nem conseguem ser funcionários. Viram políticos frustrados como o próprio Weber, Maquiavel e Pareto. Elas reconhecem que dentro de si existe um ditador que faria de Hitler, Mussolini e Stálin meros praticantes de bullying.

domingo, 18 de setembro de 2011

Narciso e o Espelho

"Deus é grande. Eu sou pequeno."
M. Gabriel

A maioria dos problemas humanos acontecem pelo fato de nos sentirmos maiores do que realmente somos. Todos somos pequenos, todos nós sabemos, mas são bem poucos os que praticam isso. Existe uma diferença entre saber e sentir. Saber, agente sabe com a cabeça; sentir, sentimos com o coração. A maioria das pessoas sabe que é pequena, mas se sente grande. É preciso ser o oposto: saber que é grande e se sentir pequeno. Saber que é grande na sua cabeça e se sentir pequeno no seu coração. Quando isso acontece, simplesmente ganhamos a vida eterna. Viramos Narcisos que contemplam o espelho, não a água, que traz o risco do afogamento. Sentimos um prazer transbordante, mas discreto, como a luz de uma estrela, que transborda um único fio de luz. Nesse estado, a maior fonte de alegria é se contemplar. Um prazer sutil, sublime e solitário.

- Atualizado em 09/11/11.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Idade

"Mas não sou mais tão criança a ponto de saber tudo."
Urbana Legio
"O teu futuro é duvidoso. Eu vejo grana, eu vejo dor. No paraíso perigoso que a palma da tua mão mostrou..."
Cazuza e Frejat
"Recitem poesias e palavras de um rei. Faça por onde que eu te ajudarei"
Cidade Negra

Tenho vinte e nove anos e mais histórias do que gostaria para a idade que tenho. Não, confesso, o problema não é o número de histórias - é sempre melhor ter o que contar -, mas o número de acidentes de percurso que já ocorreram ao longo desses vinte e nove anos de peregrinação. Enfim, caso tudo termine bem e eu realize sessenta por cento do que quero fazer, terei uma história de vida interessante para contar aos netinhos.
Concluída a introdução do post, vamos ao que enteressa: ESTOU COM MEDO! Cheguei a um determinado ponto em minha vida que percebo claramente que se eu continuar do jeito que estou não vou muito longe. Começo a sentir o peso da idade; não que ela pese - o que são vinte nove anos? -, mas já sinto que o tempo está passando. Sinto que daqui em diante cada ano não aproveitado corretamente significará uma perda de décadas. Algumas coisas que eu nunca pensara começaram a rondar meu disputado palco de pensamentos. Hoje, sinto saudades; hoje, arrependo-me de algumas coisas que eu fiz; hoje, sou capaz até mesmo de amar alguma coisa que não seja o "amor da minha vida". Estou com problemas com meu pai; estou louco para sair de casa; tenho que tomar uma decisão quanto a carreira; tenho que isso, aquilo, ad infinitum...
Ao mesmo tempo, minha fé está aumentando. Cara, somos PN neste universo. Querer ter o controle sobre qualquer coisa é TOTALMENTE INÚTIL. A solução é, e sempre será, o famoso "relaxa e goza". Mas existe um problema: para relaxar e gozar é necessário um único requisito: confiar em si. Em que sentido? Confiar que faremos nossa parte, cumpriremos nosso dever e só. Hoje sei, por mais turbulento que este momento possa parecer, que se eu adquirir a habilidade de cumprir com minhas obrigações, conseguirei meu espaço; momentos difíceis sempre existirão, mas a fé nas forças celestiais - desde que façamos nossa parte - pode se tornar de tal forma inabalável que nem um problema possa parecer mais que uma pedra no sapato.

sábado, 11 de junho de 2011

ODE AO ITABIRANO

Deixar a mão escorregar.
Ah, se fosse tão simples assim,
caro itabirano, tenha certeza,
ai do alto do olimpo,
que minha tristeza não seria
tão triste
como a sua não foi.

Como fazer das letras
peças de uma equação?
Não, não és poeta,
caro itabirano, és, sim,
matemático, errático,
como se antigo grego
também fora.

Essa coisa de dizer
e não dizer; mostrar
e não mostrar; eclipsar
o próprio nada,
provoca náuseas na cabeça
e tontura no estômago.

Assim me (des) encontro
no rastro de tuas mãos:
Em parte também retorcido.
Maior parte, completamente
diminuto.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Grito

Ponto de partida.

Eis que chega o dia.
Aquele tão esperado, aguardado.
Que vem como um verbo:
Acorda!
A água procura o caminho mais fácil.
A cobra também.
A primeira só quer voltar para fonte.
A segunda só quer saber de sapos.

O teto voa; a casa cai.
Nu me vejo sendo visto.
E o mundo inteiro brada:
Existo!

terça-feira, 3 de maio de 2011

Poemeto

Sussurro

Queria escrever um poema.
Algo assim: simples e profundo.
E nesse querer, aprendi uma lição:
Que as musas inspiram,
mas não ensinam.

Malvadas!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O que sinto por dentro

GALOS, NOITES E QUINTAIS
Belchior

Quando eu não tinha o olhar lacrimoso,
que hoje eu trago e tenho;
Quando adoçava meu pranto e meu sono,
no bagaço de cana do engenho;
Quando eu ganhava esse mundo de meu Deus,
fazendo eu mesmo o meu caminho,
por entre as fileiras do milho verde
que ondeia, com saudade do verde marinho:

Eu era alegre como um rio,
um bicho, um bando de pardais;
Como um galo, quando havia...
quando havia galos, noites e quintais.
Mas veio o tempo negro e, à força, fez comigo
o mal que a força sempre faz.
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais
Não sou feliz, mas não sou mudo:
hoje eu canto muito mais

sábado, 2 de abril de 2011

Série Rock Popular Brasileiro Vol. 1: IRA

Ao meu pai

Dias De Luta

Só depois de muito tempo fui entender aquele homem
Eu queria ouvir muito mas ele me disse pouco
Quando se sabe ouvir não precisam muitas palavras
Muito tempo eu levei pra entender que nada sei... que nada sei

Só depois de muito tempo comecei a entender
Como será meu futuro, como será o seu?
Se meu filho nem nasceu, eu ainda sou o filho
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois
Cantar depois... o quê?!!

Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção o que cantarei depois

Só depois de muito tempo comecei a refletir
Nos meus dias de paz
Nos meus dias de luta
Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois?
Se sou eu ainda jovem passando por cima de tudo
Se hoje canto essa canção, o que cantarei depois?

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Comentário:

Até meus 16 anos eu passava por cima de tudo. Apaixonei-me aos 17 e desde lá para cá tudo passa por cima de mim. Nem tanto hoje em dia, nem tanto. Mas o foco principal desta música é a primeira estrofe. Meu pai fala pouco, e eu gostaria de ouvir muito dele. Os homens respeitam muito uns aos outros pelo medo de sairem para porrada. Isso é escroto. Meu pai é a coisa mais profunda que posso conceber. Acredito que somente vou entendê-lo quando tiver um filho. Quando isso acontecer tenho medo de sofrer um grande arrependimento por não ter disposto do merecido cuidado para com meu pai. Com ele estou aprendendo que, apesar dos defeitos reconhecidos, podemos nos amar.

p.s.: Nunca achei que soubesse algo, mas hoje tenho consciência disso.

terça-feira, 15 de março de 2011

Sopa de palavras

Se quando outro sempre

É necessário chorar
de vez em quando.
É necessário viver
sempre.
Ai, esse de 'vez em quando'
e esse 'sempre'...
Quando 'quando'?
Quando 'sempre'?
Ainda tem o 'se'.
'Se' e 'quando'.
Sei que um é advérbio.
O outro eu não sei.
Olha só! O 'outro'.
Outra palavra
assim... 'quando',
assim... 'se'.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Primeiros Passos

A Imagem-Meta

Diante de Tua perfeição,
ó meu Pai,
o que fazer se não chorar?
Pois Tu és o que mais quero ser
e nego-me a Ti, como um tolo
com vergonha de ser feliz.

Tudo posso n´Aquele que me fortalece.
Soubera disso antes,
talvez não Te negasse tanto
hoje.

Enfim, estou na fila
aguardando o embarque
nesta montanha-russa
chamada vida.
Chega de desistir na porta.
Chega de pular do vagão
e beijar o chão.
Quero entrar novamente
e ser conduzido pelos altos e baixos
- não tenho mais medo
do frio na barriga.

Eu sou passarinho.
Quem me vê, não sabe,
mas eu sei.

Escorrega, dia,
que não quero mais te prender.
Escorrega, dia,
enquanto eu, escorregadio.